O
Papel da Fisiologia do Lactato na Performance Desportiva de Nadadores Luiz
Alexandre Nunes
Uma
das características principais dos seres vivos é o movimento. Podemos
dizer que não há vida sem movimento. Nos seres humanos, os movimentos
são realizados por uma interação harmoniosa entre ossos,
tendões, ligamentos, articulações e músculos. Os músculos,
porém, serão o alvo de nossas discussões neste artigo. Para
que os músculos contraiam e relaxem infinitas vezes durante todo o dia,
faz-se necessário, a presença contínua, de uma substância
proveniente da degradação dos compostos alimentares, denominada
Adenosina Trifosfato, ou simplesmente ATP. A energia dentro das moléculas
de ATP, é utilizada em todos os processos da célula que necessitam
de energia, sobretudo o processo de contração muscular. Este composto
é formado por uma molécula de adenina e ribose, denominada adenosina,
unida a três moléculas de fosfato. Quando uma ou duas das ligações
entre as moléculas de fosfato é desfeita, são liberadas várias
calorias em forma de energia livre, disponível para muitas reações,
formando-se um novo composto, que possui apenas duas moléculas de fosfato,
ligadas ao grupo adenosina, denominado de Adenosina Difosfato, ou ADP. Nosso
organismo possui uma quantidade muito limitada de ATP disponível para a
realização das funções musculares. Desta forma, precisamos
ressintetizá-lo continuamente através da degradação
dos vários nutrientes presentes no organismo. A maneira mais rápida
de ressintetizarmos ATP, é através da cisão da molécula
de outro composto fosfato de alta energia presente no organismo, o fosfato de
creatina, ou CP. Este mecanismo é conhecido como Sistema dos Fosfagêneos,
e é capaz de fornecer energia para a contração muscular somente
no início da maioria das provas de natação; 6 a 10 segundos,
tempo necessário para que atletas de elite completem a prova dos 100 metros
rasos no atletismo, pessoas normais corram para pegar um ônibus, ou nadadores
de alto nível, iniciem os primeiros 25 metros da menor prova de natação,
que é de 50 metros. Alguns autores
denominam este sistema de produção de energia, como sistema anaeróbico-aláctico
ou sistema não-aeróbico, devido ao não acúmulo de
ácido láctico no organismo ou a não utilização
de oxigênio para sua realização. O
segundo meio de ressíntese de ATP, e que está mais presente quando
o exercício ultrapassa os 10 segundos, é caracterizado pela utilização
do metabolismo dos carbohidratos. Assim como o sistema dos fosfagêneos,
a degradação da molécula de glicose, mais precisamente a
utilização de glicogênio muscular, são fontes de energia
que não necessitam de oxigênio para sua realização.
Contudo, esta alta velocidade para ressintetizar o ATP através da glicose
ou do glicogênio, é realizada apenas no período entre 2 e
5 minutos, quando a participação do oxigênio torna-se fundamental.
Dependendo da intensidade do exercício,
o produto final do metabolismo dos carbohidratos é o ácido láctico,
daí esse mecanismo ser conhecido como sistema anaeróbico láctico
ou glicolítico. O nível
de ácido láctico acumulado durante as atividades físicas,
servirá como indicador da performance atual do atleta. Sintomas como excesso
de treinamento ou má prescrição de treinos, poderão
ser detectados, mediante análise de coletas de sangue, verificando-se o
percentual de lactato no atleta. Por exemplo, em atividades que exigem grande
velocidade e potência, como a execução à máxima
intensidade da distância de 100 metros em nado livre, uma alta concentração
de lactato poderá estar relacionada à diminuição do
tempo necessário para completar o percurso, caracterizando a melhora do
tempo do atleta nesta prova, ou um estado de sobretreinamento, caso este atleta
produza a mesma quantidade de lactato, porém, com maior tempo. Em
natação, utilizamos as concentrações de lactato no
sangue, para prescrevermos as intensidades ideais de treinamentos durante a temporada.
Os protocolos de Mader e Maglischo são os mais utilizados pelos treinadores
por serem prescritos para este esporte em particular. Baseado nos resultados dos
testes, definem-se as zonas de treinamento analisando-se as curvas de lactato
ou um ponto fixo, relativo à concentração de 4 mMol/l de
ácido láctico na corrente sanguínea, tida esta, como a velocidade
ou intensidade do limiar anaeróbico (V4). Certos de que, uma alta produção
de lactato está relacionada à boa performance em algumas provas
de natação, a capacidade em reduzir o período necessário
para a eliminação deste composto dos músculos e do sangue,
ou seja, a capacidade de ressintetizar o ácido láctico em menor
tempo, parece ser a melhor maneira para diagnosticarmos a performance do nadador,
devido ao fato, de possuírem várias provas num mesmo dia, com intervalos
relativamente curtos. Luiz
Alexandre de Menezes Nunes Treinador da Duvel Natação
Pós-graduando em Treinamento Desportivo pela Universidade
Federal de São Paulo Fonte: |